terça-feira, 21 de junho de 2011

Poemas para Tertúlia (turma de mecânica)

A PONTE

Salto esculpido
sobre o vão
do espaço
de pedra e de aço
onde não
permaneço
- p     a     s    s     o
                                                Zila Mamede
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PARA MANUEL BANDEIRA
Penso-te
como quem sonha uma estrela
que inventou na madrugada
e no desejo de guardá-la
viva.

Penso-te
como o claro silêncio permanente
da neve,
como a branca surpresa
de uma flor nascente.

Meu pensamento ama-te.

       Zila Mamede

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SONETO TRISTE PARA MINHA INFÂNCIA
De silêncios me fiz, e de agonia
vi, crescente, meu rosto saturado.
Tudo de mágoa e dor, tudo jazia
nos meus braços de infante degredado.


Culpa não tinha a voz que em mim nascia
pedindo esses desejos - sonho ousado
por onde o meu olhar navegaria
de cores e de anseios penetrado.


Buscava uma beleza antecipada
- a condição mais pura de harmonia
nessa infância de medos tatuada,


querendo-me em beber de inacabada
procura que, em meu ser, superaria
a minha triste infância renegada.



   Zila Mamede

Poemas para a tertúlia (turma de eletro)

Temática: AMOR
Minh’Alma e o Verso
Auta de Souza
Não me olhes mais assim... Eu fico triste
Quando a fitar-me o teu olhar persiste
Choroso e suplicante...
Já não possuo a crença que conforta.
Vai bater, meu amigo, a uma outra porta.
Em terra mais distante.
Cuidavas que era amor o que eu sentia
Quando meus olhos, loucos de alegria,
Sem nuvem de desgosto,
Cheios de luz e cheios de esperança,
N’uma carícia ingenuamente mansa,
Pousavam no teu rosto?
Cuidavas que era amor? Ah! se assim fosse!
Se eu conhecesse esta palavra doce,
Este queixume amado!
Talvez minh’alma mesmo a ti voasse
E n’um berço de flor ela embalasse
Um riso abençoado.
Mas, não, escuta bem: eu não te amava.
Minha alma era, como agora, escrava...
Meu sonho é tão diverso!
Tenho alguém a quem amo mais que a vida,
Deus abençoa esta paixão querida:
Eu sou noiva do Verso.
E foi assim. Num dia muito frio.
Achei meu seio de ilusões vazio
E o coração chorando...
Era o meu ideal que se ia embora,
E eu soluçava, enquanto alguém lá fora
Baixinho ia cantando:
“Eu sou o orvalho sagrado
Que dá vida e alento às flores;
Eu sou o bálsamo amado
Que sara todas as dores.
Eu sou o pequeno cofre
Que guarda os risos da Aurora;
Perto de mim ninguém sofre,
Perto de mim ninguém chora.
Todos os dias bem cedo
Eu saio a procurar lírios,
Para enfeitar em segredo
A negra cruz dos martírios.
Vem para mim, alma triste
Que soluças de agonia;
No meu seio o Amor existe,
Eu sou filho da Poesia.”
Meu coração despiu toda a amargura,
Embalado na mística doçura
Da voz que ressoava...
Presa do Amor na delirante calma,
Eu fui abrir as portas de minh’alma
Ao verso que passava...
Desde esse dia, nunca mais deixei-o;
Ele vive cantando no meu seio,
N’uma algazarra louca!
Que seria de mim se ele fugisse,
Que seria de mim se não ouvisse
A voz de sua boca!
Não posso dar-te amor, bem vês. Meus sonhos
São da Poesia os ideais risonhos,
Em lago de ouro imersos...
Não sabias dourar os meus abrolhos,
E eu procurava apenas nos teus olhos
Assunto para versos.

Temática: SERTÃO

Manhã  no Campo
A Maria Nunes 
Auta de Souza
Estendo os olhos pelo prado a fora:
Verdura e flores é o que a vista alcança...
- Bendito oásis onde o olhar descansa
Quando saudades do passado chora. 
Escuto ao longe uma canção sonora.
Voz de mulher ou, antes, de criança
Entoa o hino branco da Esperança,
Hino das aves ao nascer da Aurora.
Por toda parte risos e fulgores
E a Natureza desabrochando em flores,
Iluminada pelo Sol risonho,
Recorda um’alma diluída em prece,
Um coração feliz que inda estremece
À luz sagrada do primeiro sonho!

Temática: RELIGIOSIDADE
No Templo
Auta de Souza
Que suave harmonia
Em tua voz...
Tu roubaste-a, Maria,
Aos rouxinóis?
Aqui, na Igreja santa,
Se vens rezar,
Quanta piedade, quanta!
Trazes no olhar.
Maria! como és bela,
Junto a Jesus!
O teu olhar de estrela
Parece luz.
E que doce brancura
Na tua cor...
Tens a pálida alvura
De um lírio em flor.
Junta estas mãos, formosa!
Assim... assim...
Deixa o lábio de rosa
Pedir por mim.
Vale tanto uma prece,
Dita por ti!
Mas... a noite já desce.
Vamos d’aqui.
Olha que eu tenho medo
Da escuridão...
Vamos: termina cedo
Tua oração.
Jardim - 1895

domingo, 12 de junho de 2011

Resenha de aluna da EJA

A exposição do artista plástico Clécios Silva demonstra uma riqueza de detalhes de cada personagem a quem ele retrata. Primeiro enche os olhos com tamanha nitidez de cores e formas, produzindo assim, a quem o observa, a clareza de vestígios de determinado personagem ou época.
Aprecio muito a arte, seja qual for, pois acho um verdadeiro dom quando uma pessoa é artista.

                         Joelma (Centro de Atividades Integradas - SESI)

domingo, 5 de junho de 2011

tertúlia.

O BEIJA-FLOR
 
Acostumei-me a vê-lo todo o dia
De manhãzinha, alegre e prazenteiro,
Beijando as brancas flores de um canteiro
No meu jardim - a pátria da ambrosia.
 
Pequeno e lindo, só me parecia
Que era da noite o sonho derradeiro...
Vinha trazer às rosas o primeiro
Beijo do Sol, n’essa manhã tão fria!
 
Um dia, foi-se e não voltou... Mas, quando
A suspirar, me ponho contemplando,
Sombria e triste, o meu jardim risonho...
 
Digo, a pensar no tempo já passado;
Talvez, ó coração amargurado,
Aquele beija-flor fosse o teu sonho!

Auta de Souza
O Rio
                                           à Mauro Mota
                  
 
Um rio há  adormecido em cada infância,
rio seco ou de enchente, intempestivo
rio que não cresceu - riacho riba.
Mas o que conta em nós é mesmo o rio
correndo na memória com seu jeito
de rio, sua boca chã de rio,

a força de ser rio e ser caminho
de rio, noite assombração de rio,
chamado ser em oculto chão de rio,

ter os remorsos fluviais de rio
que afogou nas areias dois meninos
e de seu pranto fez nascer cacimbas.
 
                                                                                                 Zila Mamede